Livro

Trovas

A caligrafia do Poeta Mário Morcerf (Trovas manuscritas)



TROVAS

Mário Morcerf

  

Minha tristeza angustiosa

Virou gostosa alegria,

Quando passaste, formosa,

E me disseste, bom dia!

 

 

 

 

Ama sempre, planta amor

Por toda parte ao passar;

Se não vingar, semeador,

Volta de novo a plantar.

 

 

 

 

Muito amor no coração,

Saúde, paz, alegria;

Disso, Deus faça o teu pão

E o meu pão de cada dia.

 

 

 
Saudade dói, mas, querida,
Dói muito mais, sabe Deus;
Na hora da despedida,
Sorrindo, dizer-se, adeus.
 
 
 
 
Neste jardim do meu peito,
No coração que é canteiro;
deu um amor-perfeito,
saudade o ano inteiro.
 
 
 
 
Cansado dos meus labores
Regresso ao lar, findo o dia:
Na entrada, o jardim com flores
Regando as flores, Maria.
 
 
 


Casa feita, sol brilhando

No azul do céu que bendiz

A liberdade cantando

No João-de-Barro feliz.
 
 
 
 


Ama até sentir, então,

Batendo na dor imerso,

O coração do Universo

No teu próprio coração.
 
 
 


Gosto da rosa amarela,

Amarela, mas, formosa;

Formosa igualzinha àquela,

Aquela que é cor de rosa.
 
 
Saudade: anseio, lembrança,
Deste pobre trovador;
Envelhecida esperança,
Farrapo do nosso amor.
 
 
 
 
Passarinho, passarinho,
Passarinho beija-flor;
Rufla as asas, faz carinho,
Beija de leve, que amor!
 
 
 
 
Em quatro versos contida,
Setessilabos rimando,
Chora uma trova, cantando
Todo o agridoce da Vida.
 
 



Pedi-te um beijo, negaste
Com essa vozinha rouca;
Mas a frase terminaste:
- na face não, na boca.
 
 
 
 
Igual ao Povo, Palhaço,
Não ri, da graça faz jogo;
Mas calmo, goza um pedaço,
Quando o circo pega fogo.
 
 
 
 
Abandona essa riqueza
Que não faz ninguém feliz;
Busca a Deus, ama a Beleza,
São Francisco de Assis.
 
 
 
Coisa esquisita a saudade
Na recordação da gente;
A gente sente, é verdade,
Mas ninguém sabe o que sente.
 
 
 
 
Como é triste a despedida
Quando não se leva mágoa;
Um, “adeus”, de voz sumida
E uns olhinhos rasos d’água.
 
 
 
 
É n’água verde azulada
Em ondas a encapelar,
Que eu vejo, desesperada
A paixão do velho mar.
 
 
Meu coração, satisfeito
Te entrego, e não reclamo;
Faze-o bater no teu peito
E saberás quanto eu te amo.
 
 
 
 
Não existe quem supere
O sândalo na humildade;
Quando ao machado que o fere
Perfuma com suavidade.
 
 
 
 
Luiza-Alice, eu queria
Fazer-te um poema, da luz
Do meigo olhar de Maria
Velando o sono a Jesus.
 
 
Seu amor não mediria,
Me diria o coração:
- Amaria, amaria
a Maria Conceição
 
 
 
 
muita gente, é verdade,
que sempre teve o que quis;
e espera a Felicidade
sem perceber que é feliz.
 
 
 
 
Entre as folhas escondida,
A violeta, assim formosa;
Acabou tão presumida
De ser humilde, orgulhosa.
 
 
A ela dizer não digo
Mas esta trova inocente,
O mal que sinto e bendigo,
Revela discretamente
 
 
 
 
 
Ferro velho, é, de Itabira,
No Carlos Drumond de Andrade,
O coração que suspira
Na ferrugem da saudade.
 
 
 
 
Acabou-se o que era doce,
E o que era amargo, também
Acabou-se, acabou-se ...
Tudo se acabou, meu bem.
 
 
 
Tenho uma vaca, Roseira,
Minha rosa Mariquinha,
Rosa que é cozinheira,
falta você, rosinha.
 
 
 
 
Não terás os dissabores
De desfolhar malmequeres;
Serei rei dos trovadores
Se trovas de amor quiseres.
 
 
 
 
Coisa que muito se admira
É ver a facilidade
Com que se prega a mentira
Com palavras de verdade.
 
 
Irmanei-me a tua dor
Que por tantos repartida;
Qual harpa que ao ser ferida,
Vibrou sonâncias de amor.
 
 
 
 
Zomba do drible na cancha,
Insiste limpando a praça;
Controla a bola, deslancha,
O tiro sai ... gol de raça!
 
 
 
 
Ele é dono do escanteio
Dando o tiro busca a trave
E no alto canto do esteio
Rola a bola em curva suave.
 
 
Vitória! que maravilha
essa cidade a flutuar!
- Flor do Atlântico que brilha,
vitória-régia do mar.
 
 
 
 
Que na gruta do teu peito
no berço do teu coração:
Passe Jesus satisfeito,
O seu natal, meu irmão!
 
 
 
 
Uma lua, muito lua...
Uma rua, muito rua...
Uma tua, muito tua,
saudade no coração.
 
 
Vila Velha, uma promessa
Faço hoje a Virgem da Penha:
- Que jamais de ti me esqueça
e ver-te de novo eu venha.
 
 
 
 
És de fato e de direito
amigo amigo, amigão!
Amigo velho do peito,
Amigo do coração.
 
 
 
 
Cristo meu amigo eterno
Que aos outros eu sobrepus;
Para livrar-me do inferno,
Por mim morreu numa cruz.
 
 
Vila Velha que foi nova
Ouve um pobre trovador,
- No coração desta trova
bate, escuta, é o meu amor.
 
 
 
 
SaudadeAve Maria
Do sino do coração,
Na tarde triste do dia,
Da nossa separação.
 
 
 
 
SaudadeLuz dos teus olhos
Levada, assim, de repente.
Formas e cores, distantes,
Perdidas eternamente.
 
 
SaudadeDor que procura
Consolar a dor sentida,
Da tua ausência, querida,
E me enche mais de amargura.
 
 
 
 
Um rio todo banzeiro
Itabira, Céu azul
Ilha da Luz, Cachoeiro,
Minha Princesa do Sul.
 
 
 
 
Duas mães no meu destino
Estrelas do mesmo brilho
A minha mãe que foi santa
E a santa mãe do meu filho
 
 
Marataizes, folgança
Praia, saúde, amizade.
Quem chega traz esperança
Quem parte leva saudade
 
 
 
 
Praia da Costa, de frente
Para o Convento da Penha:
Reza oração comovente
Na beleza que desenha.
 
 
 
 
Duas jóias muito finas
entrelaçadas nos nomes:
Carlos Gomes de Campinas,
Campinas de Carlos Gomes.
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 

 


 


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