Livro

Poemas (Amor)


GÊNESE

Mário Morcerf

 

Um desejo

de unir-se e nesse

unir, um todo.

 

Chegar àquele

instante quando

cessam as dores

e as amarguras

e se confundem

os sentimentos,

tudo é tranqüilo

mais do que o sonho

mais do que a paz

mais que o nirvana,

o Infinito...

 

Tocada a chama

da Eterna Luz

uma fagulha

se lhe arrebata...

no teu ventre

túnica branca

e transparente,

uma alma pura

funde-se ao corpo

de um ser nascente.

 

Quando abracei-te

e me abraçaste,

nus nossos corpos

e nossas almas

também tão nuas

dos preconceitos

que se fez uno

nosso egoísmo,

e a nossa entrega

fez-se oblação:

e se fez carne

e se fez alma

o nosso Amor.

 

 

 

 

 

 

 

ETERNAMENTE

Mário Morcerf

 

 

Não seja o nosso amor este momento,

Este instante de entrega, este tumulto

Dos nossos corações descompassados

Fervilhando no ardor que nos consome.

 

Não seja o nosso amor somente o enleio,

A maciez do carinho, o doce afago,

O leve sussurrar, toda quietude

Desse instante feliz de encantamento...

 

Que floresça nos filhos que tivermos;

Para que neles sempre se desdobre

Nos abraços e beijos que trocarem,

 

Nos filhos que do amor deles nascerem;

E nos netos dos netos de seus netos

Mesmo no esquecimento, se eternize.

 

 

 

 

 

 

 

 

BODAS DE PRATA

Mário Morcerf

 

 

O nosso amor é mais que estes abraços,

Mais que estes beijos que nós dois trocamos.

É mais que o sonho que a sorrir, sonhamos,

Quando eu te prendo e prendes-me em teus braços.

 

É mais que a força com que nos unimos,

É mais que a entrega a que nos entregamos.

É muito mais que tudo o que pedimos,

E mais ainda, do que sempre damos.

 

É mais encontro do que mesmo busca.

Mais que o abandono em que a Razão se ofusca,

É renúncia, afinal, constantemente;

 

Que dia a dia o coração liberta,

E a nós, nos prende no calor da oferta

Ao consumir-se ardendo eternamente.

 

 

 

 

 

 

 

MENESTREL

Mário Morcerf

 

 

Eu cantarei o amor cheio da graça

Que o desejo de amar tanto me inspira;

Eu cantarei o amor que me perpassa

O coração que de amor suspira;

 

Eu cantarei o amor que se entrelaça

Nos meandros do meu ser que assim delira,

E que tímido às vezes se embaraça

Nas sonâncias da minha pobre lira;

 

Eu cantarei o amor que se mistura

Na mesma taça em que a ilusão derrama

Do seu doce sabor toda amargura;

 

E o cantarei por todos os espaços,

Qual louco menestrel que amor reclama,

Carregando-te amor, pelos meus braços.

 

 

 

 

 

 

SONETO DO AMOR IMPOSSÍVEL

Mário Morcerf

 

Não posso ser o amor que tanto buscas,

Nem posso oferecer-te o que desejas

Desse sonho que sonhas e procuras,

Em vão, na realidade de um momento.

 

não posso nem devo ser promessa,

Nem mesmo ser carícia de um instante,

Nem ainda oferenda que se faça

De um pouco de ilusão numa esperança.

 

Devo eu ir como vim, sem ter ficado,

Mas deixar, como deixo, algo que fica;

E levar como levo, algo que vai:

 

Pouco menos que amor, mais que amizade,

E que há de persistir enquanto exista,

E exista enquanto recordar-se possa.

 

 

 

 

 

UNOS

Mário Morcerf

 

 

Partiste? não partiste, porque, quando

Te foste, teu amor ficou comigo;

E eu fiquei? não fiquei, pois que te sigo

Na saudade que vai te acompanhando.

 

Despediste? nem sei, pois não consigo

Relembrar, que a lembrança me tomando

Me leva a ti que vens me procurando,

E nesse encontro nos concede abrigo.

 

E assim vivemos ambos da saudade,

Na asa ligeira da recordação,

Unidos nesse amor mais que amizade.

 

Não sofremos jamais a solidão:

Teu coração bate em meu peito, e há de

No teu peito, bater meu coração.

 

 

 

 

 

 

RETORNO

Mário Morcerf

 

 

Quero apertar-te neste intenso abraço

Como me aperta o coração esta saudade;

Depois sair contigo nos meus braços

Pelas praias sem fim da Eternidade ...

Deixar que um furacão de amor nos arrebate

Num turbilhão de beijos e carinhos,

Arrasando a tristeza desses dias

Que passamos tão longe de nós mesmos.

 

 

 

 

 

 

MIRAGEM

Mário Morcerf

 

 

Uma esperança que me pôs tão perto

da realidade que sonhei amores:

tamareiras e água no deserto,

ilusões de beduínos sonhadores.

 

Eras o oásis que eu buscava incerto,

mas tão convicto que teus esplendores

punham meu coração a descoberto

ao alcance de alfanjes traidores.

 

E te busquei nessa ansiedade insana

na certeza feliz de que me querias,

como se quem espera não se engana...

 

Não me quiseste; o deserto, e as agonias

o vazio, o sirrum, a caravana

da tristeza sem fim pelos meus dias.

 

 

 

 

 

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