Mário Morcerf Campos
Por José
Angelo da Silva Campos*
Filho de Teófilo Campos da Silva e Alice Morcerf Campos, nasceu na
cidade de Eugenópolis no Estado de Minas Gerais em 26 de janeiro de 1913. Seu
pai tinha por ofício o adestramento de cavalos e burros selvagens, e pertencia
a uma família de homens de fibra e muito respeito na região. Sua mãe era
oriunda de uma família de aristocratas de muita cultura. Um bom exemplo dessa
afinidade com as letras é o fato de que o nome da família Morcerf teve origem na
admiração da sua bisavó ao encontrar esse nome na leitura do livro “O Conde de
Monte Cristo” de Alexandre Dumas, demonstrando ser alfabetizada nos idos de
1860, fato raro na época para uma mulher. Daí em diante a família que era
Rodrigues Pereira, passou a chamar-se Morcerf, esse fato era narrado pelo
próprio Mário, porém, hoje encontramos relatado no livro "O Vale do Gavião
- Vol IV - de autoria de Antonio Soares Ramos, a seguinte narrativa: "Alberto Morcerf Rodrigues Pereira,
filho de Israel Rodrigues Pereira e dona Maria Procópia do Nascimento, casou-se
com dona Maria Carolina de Morcerf, filha de Francisco de Paula Assis Teixeira
e de dona Serafina Maria Teixeira. Seu Pai, de tradicional família, gostava de
leitura. Certa vez, lendo um romance muito em voga na época, encontrou um
personagem com o nome francês de Albert de Morcerf. Achou bonito o nome,
registrando com ele um dos seus filhos. Os seus irmãos foram: Lauro, Carlos,
Mariquinhas, Argemiro, Agenor, Zaluar e Sertório. (...) Os filhos foram: Altescor,
José, Zeza, Iá, Jandira, Rejane, Ataualpa, Francisco, Gilda, Dorinha, George,
Geurcina, Alberto, Alice (mãe do Mário), Cronge e Leontina."
Aos seis anos de idade perdeu seu pai, morto em uma emboscada a
mando de adversários políticos. Ao tornar-se órfão de pai e em vista das
dificuldades no sustento da família, sua mãe passou a morar com seu irmão, o
Sr. José Morcerf, que coincidentemente no mesmo período tornara-se viúvo com
vários filhos para criar. Dª Alice ajudava-o na criação dos filhos, dentre os
quais havia o Dr. José Morcerf Filho que foi Juiz de Direito da Comarca de
Castelo e Desembargador da Justiça Capixaba.
Seus parentes maternos, preocupados com a sua formação, após ter
iniciado seus estudos na Escola Estadual de Antonio Prado de Minas-MG, decidiram
encaminhá-lo para um colégio de padres, “Internato São José dos Irmãos
Maristas”, em Mendes no Estado do Rio de Janeiro, onde cursou até a 2ª série
Ginasial.
Mário teve vários irmãos, sendo que a maioria morreu ainda criança
devido a doenças respiratórias (bronquite) muito comuns naquela época e de cura
difícil.
De todos os irmãos, apenas a mais velha sobreviveu, Maria de
Lourdes Morcerf Campos.
Maria de Lourdes casou-se com o comerciante Aristides Carvalho que
se estabeleceu no município de Castelo/ES.
Aos 12 anos de idade (em maio de 1925) resolveu, junto com a sua
mãe, aceitar o convite de sua irmã para morar em Castelo/ES, onde passou a trabalhar
para o seu cunhado na firma Carvalho & Irmãos, exercendo as funções de
vendedor, pois era muito bom em matemática, além de cuidar dos animais cujo
trato referia como o cuidado dispensado nos dias de hoje a um carro novo,
“lavava as crinas do cavalo com leite”, dizia ele.
Com a experiência adquirida passou a trabalhar para o Sr. Luiz
Sellitte nas mesmas funções de comerciário.
Trabalhou, também, como lavrador, nas localidades de Pontãozinho e
Córrego da Areia.
Em 1939 foi gerente de um estabelecimento comercial, bar e
bilhares, situado na Av. João Pessoa (hoje Ministro Araripe) em Castelo/ES,
passando a sócio proprietário em março de 1940.
Em 1943, com escritório em Conceição do Castelo, foi comprador de
café da firma Archilau Vivacqua e
funcionário da Empresa Brasileira Torrens
de venda de terrenos e extração de madeira cedro.
Em 1950 participou como pesquisador do Censo Demográfico e em 1951
fez concurso público para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE, tendo sido designado para servir em São Mateus/ES, onde viveu por cerca
de seis anos, construindo fortes laços de amizade, participando ativamente da
vida comunitária, tendo atuação ativa na instalação dos padres Combonianos,
participando nas quermesses como locutor, criando jargões com o uso da sua veia
poética, foi secretário de partido político e era respeitado como cidadão,
tanto pelos populares como pelas autoridades locais.
Em 1957 conseguiu ser transferido, vindo a exercer suas funções em
Castelo/ES até 1973. Nesse período, como coordenador geral do MOBRAL quando da
sua criação, deu a Castelo o 1º lugar na Organização do Levantamento da
População Analfabeta da cidade, tendo esse trabalho servido de modelo para todo
o Brasil.
Em meados de 1974 foi transferido para Cachoeiro de Itapemirim/ES,
exercendo suas funções até a sua aposentadoria em 1975, com 50 anos de
trabalho, sendo 23 anos em serviço público pelo IBGE e 27 anos em empresas
particulares, destes 46 comprovados junto ao na época INPS. Retornou para
Castelo em1984 passando a residir na Rua Otto Vieira Machado nº143, em frente
ao Colégio João Bley.
Em 1926, aos treze anos de idade, escreveu um pequeno poema para o
seu avô materno, Sr. Alberto Morcerf, que empolgado com o que lera e observando
pequenos acertos, retribuiu-lhe o presente com um livro sobre poesias, momento
em que passou a ser lapidado o “Poeta”, daí o motivo dele afirmar que “o poeta nasceu em Castelo”.
Em homenagem ao seu avô e incentivador, passou a assinar seus
poemas como “Mário Morcerf”, dispensando nas suas obras o sobrenome
paterno.
Em 1928, com quinze anos de idade participou da cerimônia da
emancipação política e posse do primeiro Prefeito de Castelo, o Dr. Américo
Viveiros da Costa Lima, onde era responsável pelo serviço de bebidas, figurando
na foto oficial desse honroso momento servindo o famosíssimo Champanhe francês “Veuve Clicquot”.
É importante observar que, apesar de ter estudado somente até a 2ª
série ginasial, ele sempre se dedicou muito aos estudos, podendo ser
considerado um autodidata com vasto conhecimento em diversas matérias.
Homem culto lia muito, estava sempre participando das altas rodas
políticas e sociais. Redigiu muitos discursos para os políticos e autoridades
locais.
Homem humilde e muito religioso (religiosidade essa herdada de
seus pais, em especial de sua mãe, e do aprendizado no Colégio Marista) sempre
tratou com respeito e dignidade a todos que conhecia, independentemente da sua
condição social.
Casou-se em 26 de janeiro de 1945 com a professora estadual Odete
Silva, mineira de Patrocínio de Muriaé, juntando as coincidências, nascida
também em 26 de janeiro, porém de 1920, filha do fiscal da Prefeitura Municipal
de Castelo o Sr. Antônio Crispim da Silva e de Luiza Martins Ramos.
De poucas posses, porém sábio, entendia a importância do
conhecimento na vida de um homem, fez questão de que todos os seus onze filhos
(nove mulheres e dois homens) dedicassem o máximo aos estudos, conduzindo todos
à conclusão do ensino médio, que era até onde suas posses podiam levar.
Católico obediente soube como ninguém evangelizar e encaminhar a
todos os seus em uma vida de reconhecimento do amor de Deus, ensinando-lhes que
em primeiro lugar, “acima do papai e da
mamãe está o pai do céu”. Tinha por costume rezar o Rosário todos os dias.
Seu espírito pesquisador trouxe-lhe a fama de “profeta”. Tinha por
hobby as pesquisas minerais, costumava quando jovem adentrar a região de
Castelo e municípios vizinhos, mesmo a pé, em busca de minerais curiosos, aos
quais após longa pesquisa e consulta a livros e outras fontes especializadas,
ia aos poucos definindo os tipos mais comuns existentes naquela região. Seu
sonho era encontrar a pedra mais preciosa, o diamante, em solo capixaba.
Nessas pesquisas mineralógicas foi o descobridor de várias
espécies de minerais até então desconhecidas naquela região, como exemplo temos
a safira de corindo.
Em razão dessas muitas pesquisas e estudos, recebia a visita
constante de Geólogos e outros cientistas da mineralogia que buscavam na sua
sabedoria a solução para seus questionamentos.
Mas o mineral por ele encontrado que mais trouxe satisfação, pela
possibilidade de trazer desenvolvimento para o Estado que adotara como seu, foi
o Petróleo.
Em 1952, em São Mateus/ES, antes da existência da PETROBRAS,
descobriu o petróleo, remetendo uma amostra ao Governador do Estado Jones dos
Santos Neves, que em resposta expressou a seguinte frase: “Quando abri a lata contendo o material enviado, recendeu por todo o
Palácio Anchieta o cheiro do Petróleo”.
Em Castelo, no ano de 1972, encontrou fortes vestígios da
existência de Petróleo ao analisar material encontrado em abundância na Fazenda
dos Moços, distrito de Aracui, pertencente aos Irmãos Mesquita. Na época o Sr.
José Mesquita era prefeito municipal e ambos envidaram esforços para que a
PETROBRAS realizasse pesquisas nessa área, portanto, para sua surpresa não
houve interesse da empresa estatal.
Em matéria publicada no Jornal “A Tribuna” de Vitória/ES na edição
de 15/07/1977, denunciou o descaso e profetizou a existência das mais
importantes reservas Petrolíferas do Estado e do Brasil na região entre a foz
do rio Itabapoana e a do Benevente e da vertente oriental do prolongamento da
serra do Caparaó e algumas milhas mar adentro.
Poeta, escreveu muitas obras das quais boa parte se perdeu no
tempo.
A poesia não representava para ele um hobby, mas sim uma forma de expressão artística que aflorava em
suas palavras sem a necessidade de grande esforço, pois muitos de seus poemas
foram escritos em meio ao burburinho das muitas crianças, seus filhos, que
faziam festa à presença do pai.
Ele dizia que as palavras estavam espalhadas no ar e que a única
coisa que ele fazia era juntá-las harmoniosamente.
Foi o autor da letra do Hino do Colégio João Bley com música do
professor Joventino Barros.
Participava de vários concursos de trovas e poesias, sendo
premiado muitas vezes. Dentre esses concursos citamos: Jogos Florais de Alegre
e concursos promovidos pelo Clube de Trovadores Capixabas de Vila Velha/ES.
Amava o povo desta terra como ninguém, exprimia esse amor nos
poemas de cunho social e nas incessantes sugestões enviadas aos nossos
governantes.
Desejava escrever a história de Castelo, mas o tempo não permitiu,
chegou a esboçar alguma coisa, mas muito se perdeu.
Para quem não escreveu a história de Castelo, ao menos foi capaz
de redigir um artigo chamado de “As
Profecias de Mário Morcerf”, publicado no Jornal “Castelo Novo” edição de
15/01/1962, no qual consegue visualizar todo o progresso de Castelo até a
atualidade, demonstrando ser um homem de visão futurista.
“Seu Mário”, como era chamado pelos amigos, que eram muitos, tinha
também fama de conselheiro, pois constantemente dava conselhos àqueles que
pediam, não importando a idade. Tinha ótimo relacionamento com os jovens,
estando sempre por dentro dos assuntos que mais lhes interessavam. Entre seus
rascunhos encontramos um conselho do que seria para ele a Fórmula de
felicidade:
“fazer poesia e criar um
universo de desejos bem limitado para sempre conseguir mais que o que se
deseja. Crer em Deus, nEle se manter ligado e ter confiança em si mesmo.”
Ao final dos anos 80 foi homenageado com o Título de Cidadão
Castelense, que vinha tornar de direito uma cidadania que já assumira de fato.
Em 18 de dezembro de 1990 faleceu na cidade de Castelo, deixando
além de muita saudade, um pequeno conjunto de obras dignas dos maiores elogios
e na memória daqueles que com ele conviveram, as suas estórias e histórias da
vida de Castelo.
*Teor baseado em relatos
escritos pelo próprio biografado, memórias dos muitos diálogos com o redator e
ajustes, acréscimos e ratificação de todas as filhas e filhos do poeta.
A HERANÇA DO POETA É INESGOTÁVEL. SEUS ESCRITOS REVELAM A PERSONALIDADE DE UM PACIFICADOR QUE ACREDITAVA NO AMOR, TINHA ESPERANÇA EM UM MUNDO MELHOR E UMA FÉ INABALÁVEL EM “DEUS”, HABITUOU-SE A RIR DO SOFRIMENTO E NÃO LHE ATRIBUIR VALOR. PARA CRIAR SEUS ONZE FILHOS COMEU O PÃO QUE O DIABO AMASSOU. ESSE SER ILUMINADO E ESPECIAL CONSTRUIU EM 77 ANOS DE VIDA UMA ESTÓRIA DE VIDA INVEJÁVEL. A CASA DOS SONHOS, IDEALIZADA, RISCADA E PASSADA A LIMPO, NÃO PODE SER CONSTRUÍDA, NÃO NESSES TERRENOS ÍNGREMES. EM SEUS VERSOS HOMENAGEAVA DENTRE OUTROS TEMAS A “MULHER IDEAL”, LINDA POR DENTRO E POR FORA, TAL QUAL O “DIAMOND”, SUA “BRILHANTE” E INCESSANTE BUSCA - QUE PERDUROU POR MAIS DE MEIO SÉCULO - LAPIDADO EM SEUS SONHOS, TAMBÉM AQUI NÃO FORA ENCONTRADO, EM SEUS LÚCIDOS DELÍRIOS TEVE A CERTEZA DE ENCONTRÁ-LO E, NESSES MOMENTOS SURREALISTAS MUITOS PROJETOS DE VIDA ERAM CONCRETIZADOS E COMEMORADOS A EXAUSTÃO. SABIA, COMO NINGUÉM, QUE A VIDA TERRENA ERA EFÊMERA E QUE OUTRAS PARAGENS O AGUARDAVAM.
ResponderExcluirPARODIANDO OUTRO POETA, QUE ASSIM DIZIA: “MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGO”! ONDE QUER QUE ESTEJA “SEU MARIO” CONTINUE A NOS ILUMINAR COM O SEU BRILHO CENTENÁRIO. “SAUDADES ETERNAS”.
JOSÉ ANTONIO DA SILVA CAMPOS – FILHO.
é de emocionar!! quero conhecer mais a obra de "Seu Mario" Saudações!
Excluirem seu centenário.
Grande honra morar no nª 75 da Rua Mario Morcerf Campos, bairro
ResponderExcluirSanta Bárbara, Castelo ES. Devemos repassar para os nossos filhos e vizinhos a importância do legado cultural deixado por esse homem de valor.
Parabenizar o amigo José Angelo da Silva Campos o trabalho realizado.
Maurício Mendes Júnior
É muito bom que a família Morcef/Campos,tenha destinado este espaço para homenagear o Centenário deste que ajudou a construir a história do nosso Município. Parabéns pelo seu centenário.
ResponderExcluirFico muito feliz em saber que faço parte desta família maravilhosa, 4⁰ geração
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